O laudo da perícia da Polícia Federal que analisou as gravações
da conversa entre o empresário Joesley Batista, dono da
empresa JBS, e o presidente Michel Temer e os gravadores
usados pelo empresário aponta que não houve edição de
conteúdo, ou seja, não houve manipulação nos diálogos.
A informação foi confirmada por duas fontes envolvidas na
investigação. A perícia oficial contesta a perícia contratada
pela defesa de Michel Temer, do perito Ricardo Molina, que
apontou entre 50 e 60 "pontos de obscuridade" e
"mascaramentos" na gravação (leia mais informações
sobre a perícia de Molina ao final desta reportagem).
Investigadores afirmam que os peritos da Polícia Federal
encontraram pontos de descontinuidades técnicas, ou seja,
variações no sinal de áudio, provocadas por questões técnicas,
sem sinais de fraude ou edição. O laudo acrescenta que as
conversas de Joesley com o presidente têm lógica e coerência.
De acordo com o laudo da PF um dos dois gravadores que o
empresário apresentou à PF foi, de fato, utilizado para registrar
a conversa.
O laudo da PF foi entregue em mãos ao delegado do caso, que
foi ao Instituto Nacional de Criminalística para recebê-lo. O
parecer será enviado na segunda-feira ao Supremo Tribunal
Federal e anexado ao inquérito, cujo relatório parcial foi
entregue pela Polícia Federal ao STF na última segunda-feira.
O relatório afirma que evidências indicam "com vigor" que
Temer e o ex-assessor e ex-deputado Rodrigo Rocha Loures
cometeram crime de corrupção passiva. A PF aguardava a
perícia da gravação para concluir as investigações sobre a
suspeita de que Temer e Loures cometeram outros dois
crimes: obstrução de justiça e formação de organização
criminosa.
Advogado de Temer
O advogado do presidente Michel Temer, Antonio Cláudio
Mariz de Oliveira, disse ao G1 que ainda não teve acesso ao
documento da PF e que buscará conhecer o teor da perícia
para se pronunciar.
"Mas posso adiantar que laudo não é uma verdade absoluta.
Se existe um laudo dizendo que não houve manipulação,
existem outros três dizendo que houve. É uma questão de
análise e de julgamento final da autoridade responsável.
E essa prova está sendo contestada sob outros aspectos,
principalmente sobre a licitude", disse Mariz.
O advogado de Temer acrescentou, ainda, que a gravação de
Joesley Batista deveria ser considerada ilícita porque, na visão
da defesa do presidente, só se pode gravar uma conversa "para
quem está gravando vir a se defender futuramente, o que não
é o caso".
"Portanto, existem duas objeções a esta gravação, uma de
caráter técnico e outra de caráter legal, que nós vamos discutir",
concluiu.
O diálogo
Na noite de 7 de março, Joesley Batista teve um encontro com
Temer fora da agenda, na residência oficial do Palácio do
Jaburu, em Brasília, e, com um gravador escondido, registrou
a conversa.
No diálogo, ele diz que "zerou pendências" com o deputado
cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e que está "de bem" com o
peemedebista, que está preso em Curitiba. Neste momento,
Temer diz ao empresário: "tem que manter isso". Joesley disse
ao Ministério Público que Temer deu aval para que ele
comprasse o silêncio de Cunha, para que o ex-deputado não
fizesse delação premiada.
De posse da gravação, o Supremo instaurou inquérito para
investigar Temer. A PGR afirmou em documento enviado à
Corte que houve “anuência” do presidente ao pagamento de
propina mensal para comprar o silêncio de Cunha.
Laudo paralelo
Em maio, o perito Ricardo Molina, contratado pelos advogados
de Temer, divulgou um laudo no qual afirmou que é "imprestável" como prova numa investigação e não seria
aceita em uma "situação normal".
Para Ricardo Molina, o áudio apresentava "inúmeras descontinuidades, mascaramentos por ruído, longos trechos ininteligíveis ou de inteligibilidade duvidosa".
Com base na gravação e em informações prestadas por Joesley
e o irmão Wesley Batista, o ministro do Supremo Tribunal
Federal (STF) Luiz Edson Fachin autorizou a abertura de
inquérito para investigar Temer pelos crimes de corrupção
passiva, obstrução à Justiça e organização criminosa.
Via: G1
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